Já escutei alguns mestre da meditação, um deles – abandone o paraíso, rasgue os tíquetes da loteria, cancele as férias. Impactado e pensativo sobre a fala, eis o que decifrei, o sonho do paraíso pode ser uma cilada, em que a felicidade está no futuro, longe e mais adiante, enquanto o valor do que está aqui é negligenciado. O plano pode ser ótimo ao olhar para o futuro idílico. Há, entretanto de forma escondida uma dissolução, o paraíso pode ser um retorno ao indiferenciado, aquele lugar em que a alegria, a paz e a realização e o eu não são separados. Uma junção. Nessa junção o eu não existe mais. Assim dissoluto em tudo.
Na criação do paraíso lá na frente onde essa junção será realizada, há aqui no hoje uma desvalorização do que existe, o eu. Esse que não é tão valorizado hoje, incentivado o paraíso como projeto surgir. A pergunta que segue é: e sobre planos e projetos, já que são desvalorizações do eu, não deveriam existir?
O plano pode ser para valorizar o eu, não retorná-lo a um estado de indiferenciação. Perceber que onde quer que o eu esteja, haverá encontro com prazeres e desprazeres. Valorização do eu seria então ir em direção a emancipação do eu, mais autonomia, a tornar-se mais autêntico em escolhas e formas de viver. Querer um paraíso perfeito e assim chegar a indiferenciação entre o eu e a realização é como querer morrer em vida, um adiantamento da morte. Um desejo de morte. O que pode parecer maravilhoso pois a vida é difícil de verdade, não há paraíso perfeito. Valorizar o que existe é valorizar a vida do eu.
A busca do paraíso é uma negação da vida, disfarçada de projeto e crescimento. O real crescimento é dar forças para o que existe, em toda sua dificuldade e felicidade. Um paraíso imperfeito.