Ouvi falar dos perigos que a meditação pode trazer, como piora da depressão ou para algumas pessoas, ataques de pânico. Eu, Helton Azevedo, meditador experiente com 19 anos de meditação, já experimentei esses efeitos negativos e posso compartilhar os meu pensamentos com você. A medida é o que separa o remédio do veneno, será que essa fala funciona para a meditação também? Em uma época cheguei a meditar de 3 à 5 horas por dia e certa vez, durante uma meditação me veio um insight: para meditar menos e viver mais, ou seja, voltar minha atenção para fora de mim, para o mundo, para o trabalho, criar coisas no mundo. Esse insight veio como uma fala em uma espécie de sonho: hoje você meditar 4/4 (ou seja, todo meu tempo), tente agora meditar 2/4 e viver o restante do tempo. Seguiu e me sugeriu meditar cada vez menos e estar no mundo cada vez mais. Quero dizer com essa história que muitas coisas estranhas podem acontecer durante uma meditação, como no meu caso a própria meditação me disse para não meditar. Diversas vezes tive crises de pânico durante a meditação, durante imersões meditativas eu entrava em contato com ideias, memórias, imagens que me causavam tanto desconforto e inquietude que uma crise era desencadeada.
É possível dizer que para a maioria das pessoas a meditação seja mais alegria do que dor, mas para outras, haverá desafios a serem vividos. Isso não é de todo novidadeno mundo da meditação, há muitas histórias de mestres que já avisaram aos possíveis interessados em olhar para dentro com mais afinco que não será tarefa fácil. A cada descoberta profunda feita, algo em nós é remodelado, uma base bem estruturada e firme é abalada e isso pode ser sofrido, assim a meditação profunda de fato é para os motivados de verdade.
Uma vez encontrei algo dentro de mim que me deixou, por assim dizer, mal. Ao encontrar noção do “acaso”, esse que não vê relação de causa e efeito entre os acontecimentos. É comum nossa tentativa de fazer sentido das coisas, frases como: sofreu, mas essa pessoa deve ter merecido; nada acontece por acaso; Deus sabe o que faz; o universo vai dar o troco; o que é meu vai chegar. Atentativa de achar um porquê das coisas é muito presente e tão necessária para uma estruturação da nossa existência e mente. O que me deixou melancólico foi deixar o pensamento oposto ter um espaço dentro de mim, o acaso. O acaso é uma das coisas que mais causa pavor, a falta de sentido, se coisas ruins podem acontecer com pessoas boas (como eu, é claro), qual é o sentido de tanto sacrifício, de tanto trabalho, já que não haveria nada de recompensador garantido no final do túnel? O acaso é algo que é expelido do nosso entendimentos sobre o mundo, sobre si mesmo e sobre o outro – fugimos da ideia do acaso como a abelha do urso. Como é viver em um mundo sem sentido? Foi a pergunta que deixei entrar em minha última meditação, e me causou um impacto e tanto, o contrário eu já tinha feito, sei como é viver uma vida em que crio os significados e sentidos. Mas o acaso foi novo para mim, e foi desestruturante. Assim, a meditação pode ser entendida como uma pesquisa interna, do que existe dentro, também é perceber o que foi excluído e seus possíveis motivos.
Se você quer meditar profundamente e ir adiante nessa prática, a recomendação é achar alguém que já entrou nesses dilemas e se deixou ser afetado por eles profundamente. Alguém que se perdeu mas não de forma definitiva, e pôde voltar diferente. Esse instrutor vai pegar sua mão e ir junto nos buracos e desmoronamentos das bases conhecidas da sua mente, ele estará lá com você como uma companhia nas horas sombrias. Como achar alguém assim? Talvez deixar o acaso falar.
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