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Minha história com a meditação

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Minha história com a meditação

Por que eu entrei em uma escola de yoga? Essa pergunta foi essencial para mais tarde entender o que a meditação significa em minha vida, demorei um tempo para ver a meditação de uma forma genuinamente minha. É comum ver a meditação como um objeto em si mesmo, esquecemos que ela acontece dentro de cada pessoa que senta e medita. Queremos vê-la como algo habitual, acordar e escovar os dentes, e que deve ser acrescentado à rotina, a qual traria mais felicidade, clareza mental, calma e relaxamento. Creio que essa visão é apenas uma parte da história, e sim, essas coisas podem acontecer na meditação. A segunda parte, a qual demorei para formular, é que a meditação acontece de forma única para cada pessoa, a depender do praticante e a depender do tipo de meditação executada. Para isso tenho que contar um pouco de como ela funciona para mim.

Meu caso com a meditação começou em 2003, quando entrei pela primeira vez em uma escola de yoga, perto de minha casa, eu tinha 21 anos e posso tentar me definir como uma pessoa introspectiva, esse detalhe será importante no decorrer desses parágrafos. Sigo na prática de yoga e meditação até os dias de hoje, em 2022. Porém, foi depois de 10 anos nesse caminho que tudo mudou, eu não acreditava mais na meditação. A felicidade, clareza mental, equilíbrio, a famosa iluminação prometida por esses tipos de prática nunca chegou. Demoraram todos esses anos para começar a fazer perguntas diferentes: o que é a meditação, ela realmente funciona? Antes disso, minha preocupação era em aprender o como fazer. Um professor que tive de artes visuais me contou sobre uma marcação, um tipo de teste – para você começar a fazer algo ao ponto de acrescentar sua subjetividade ao que você faz de forma relevante tomam-se 10 anos, ou seja, apenas depois  de uma período longo de captação e absorção da sua atividade é possível exercer sobre ela um entendimento ou um fazer diferente. Depois desse tempo todo de exercícios de yoga e meditação cheguei a um ponto crítico, ao me questionar o que e para que tudo aquilo era feito?

Foi quando olhei não para a meditação como uma coisa em si, algo que basta em si mesma, mas a olhei de uma forma diferente, como algo em relação. Um primeiro insight sobre meu relacionamento com a meditação foi perceber que eu a usava como um escape da realidade. Antes, a introspecção foi um recurso usado por mim para lidar com o mundo, na medida que este se mostrava diferente das minhas expectativas, eu me voltava para um mundo interno, mais seguro e amigável. Foi então que esse jovem de 21 anos, encontrou uma maneira de entrar em si e quem sabe acessar um mundo melhor do que via do lado de fora, e a meditação o ajudaria. Com o adendo de ter um trabalho e ser bem visto pelas pessoas do mundo, como alguém dedicado a práticas espirituais. Era uma saída brilhante. É isso só me foi percebido depois de percorrer um bom caminho de disciplina e mais importante, poder questionar o que era aquilo tudo.

Além de conhecer a meditação, importante é ver quem é a pessoa que medita. Creio que foi nesse ponto que tudo mudou, será que só então minha meditação começou de fato? E o que fazer a partir de agora? Comecei a olhar para quem medita, esses anos não foram de todo desperdiçados, conseguia ficar horas parado, no entanto, não fazia mais os exercícios já sabidos, e sim para o que não sabia, voltei minha percepção a conhecer mais quem meditava. Ao invés de querer alcançar o mundo prometido da realização pelo yoga e meditação, satchitananda, consciência, existência e êxtase, fui apenas atrás do Helton. Lá, fui descendo aos porões e atingindo o que era escuro e nebuloso. Como diz minha terapeuta – não é como comer pudim. Digo, não é só alegria, talvez seja mais como perder o chão aos poucos e passar a confiar em outra coisa, diferente de estruturas fixas. Uma história ilustra bem esse ponto: um vigia na entrada da cidade conhecia todos os que passavam pelo seu portão, contudo, uma pessoa o chamou atenção. Esse senhor passava pela entrada da cidade e ia em direção a um rio, ficava horas e voltava, todos os dias eram assim. O vigia o seguir para descobrir o que o senhor fazia horas lá, imaginou que pescasse algo, porém chegando lá, viu o senhor sentado a fazer nada. Não resistiu e o questionou. O senhor respondeu que ele não era tão diferente do vigia, entretanto ao invés de olhar tudo o que acontece na entrada da cidade como o vigia,  o senhor olhava para tudo o que entrava em si. 

Sobre a entrega, tão citada nos textos de yoga e meditação. Talvez essa história contada até aqui  não seja tão diferente da trilha em que todas as pessoas passam. Sobre soltar um pouco as rédeas e confiar. Um professor de meditação que tive, me disse que primeiro é imprescindível aprender a nadar para conseguir então confiar o bastante e boiar. Boiar é fácil para quem tem uma jornada na natação, em conhecer o ambiente marinho. Ao ler textos sobre autoconhecimento, meditação, yoga, a saída dada é simples: soltar, entregar, confiar, amar. Todavia, aprender a nadar é onde está o desafio, é onde o pudim queima. Será que algum dia será possível soltar de verdade, ou será sempre nadar e nadar? Outro mestre da meditação já previu isso, e sua resposta foi: aprenda a caminhar e isso será o bastante. 

Helton Azevedo

Helton Azevedo