O que é espiritualidade? Uma palavra que pode ter tantos significados, geralmente ligados ao divino, outra palavra também que não nos ajuda muito. Talvez uma questão comum, é de se achar guiado, conduzido por algo maior, ou uma organização a qual faço parte. Ao contrário do caos em que não há nenhuma lógica para a relação entre as coisas e pessoas, um universo em desarrumação.
acredito que quando alguém quer encontrar uma espiritualidade, está atrás de perceber e vivenciar um linha de continuidade em que ela mesma faz parte, onde seus atos têm consequências esperadas, dentro de uma lógica, mesmo sem saber qual ela seja. Ou seja, se perceber nessa lógica ou saber que ela existe, e assim, saber que as coisas estão nos trilhos. Essa busca pela espiritualidade não faz sentido a alguém que vê suas ações como ruins, pois, ele mesmo teria consequências indesejáveis, ao esperar que a divindade ou espiritualidade seguisse algum tipo de organização. Ninguém imagina um universo organizado de forma a não recompensar os esforços ou escolhas sábias e por consequência castigar quem não o faz. Porém, mesmo realizando algo indigno dessa ajuda divina, criamos uma justificativa que nos perdoa e assim podemos novamente entrar nas graças da espiritualidade. Ou ainda, o sujeito acredita com todo seu ser estar a fazer o certo, mesmo quando há muita resistência das pessoas ao redor. Afinal, o que é o certo e o errado?
Há uma divisão de desejos, se por um lado não queremos ser julgados e castigados, por outro não conseguimos viver uma vida em caos, em um mundo desordenado. Ou seja, um mundo em que a divindade perderia seu emprego, ela abençoaria o que exatamente, se não há relação de bom ou ruim entre as ações e coisas, sem o que regular aqui na terra de lá do mundo que está além do nosso? A bênção seria em vão, com ela também iria embora a culpa, o julgamento, a recompensa. Mesmo para quem não crê na espiritualidade e suas variações, costuma depositar todos esses valores no universo, na natureza, uma organização ou inteligência a qual a dirige minimamente e mais do que isso, pune e presenteia. Queremos a liberdade dessas coisas, certo/errado-julgamento/punição, e ao mesmo tempo não a queremos, há um medo em enxergar o mundo sem essas linhas de conduta, desenhadas por nós mesmos em conjunto com os outros. Mas o que pode ser a espiritualidade?
Uma saída é dada, para aquele que senta. E sente o sol esquentar, o vento esfriar, que folga e aprecia. Quem pode de fato fazer essas coisas? Quem tem tempo para tanto, só quem pode, para viver uma saída possível do julgamento/culpa/punição, há de haver tempo e o mais importante, as necessidades básicas e dignas devem estar supridas, caso contrário só haverá tempo para a luta. Para ter a possibilidade de uma via de saída de uma divindade que nos prende em círculos de ações e pensamentos. Assim, ao contrário, em direção a uma rota que sai pela tangente, no sentido de desfrutar coisas que nos são acessíveis. Como a possibilidade de sentar, de caminhar, de observar, escrever, pintar, conversar, dormir. Para poder minimamente, criar sua própria rota de fuga, primeiro vem o afrouxar a relação com a espiritualidade, com o que estaria acima do mundo dos homens. Para então originar uma relação consigo e com o mundo com menos julgamento/culpa/punição, para isso há de ter uma certa dose de coragem para viver de uma forma única e mais coragem ainda se permitir gozar nessa maneira.