O Sono Inútil, o sono é inútil, serve para nada, quem precisa dormir quando se pode fazer tanta coisa? Por outro lado, tente passar mais de alguns dias sem dormir, não será possível nem mesmo participar de uma conversa, será mais como um zumbi, um morto vivo, presente em corpo sem ânimo. Quem nunca experimentou isso depois de uma festa, uma noite de réveillon? Imagine agora que todos os dias serão de festa, dormir será quase um ítem de luxo,sem vacilo você dirá que não vale tanto tempo de festa, nem mesmo interessante. Isso nesse mundo não tão imaginário assim, em que festa seria a palavra de ordem, e de certa forma é, em nosso tempo uma próxima da festa, a felicidade. Porém para chegar lá é preciso antes batalhar, cobrar de si cada vez mais, ser uma pessoa sempre em melhoria, estar em busca incessante, ser melhor versão de si, estudar enquanto os outros dormem. E quem sabe, se todos os quesitos estiverem resolvidos, você receberá a sua felicidade. Essa mentalidade é tão natural para algumas pessoas que parece ser inquestionável, para outras, tudo isso é um tipo de pensamento em círculo, pois a linha de chegada está sempre a um passo à frente, aquele último projeto, a última milha, só mais um curso, mais uma hora de expediente, o último processo, mais uma pós-graduação.
Seguindo pensando, quanto mais essa forma de ver a si mesmo, sempre em falta e com a promessa da felicidade no horizonte o qual nunca chega por ser um nó circular que nunca desfaz, é natural afastar-se de tarefas percebidas como inúteis. Nada de caminhadas no parque, tempo para um café, uma conversa sem pauta com um amigo, ou seja, tudo o que é inútil aos olhos da produtividade é descartado. A princípio isso seria ótimo, mais desempenho, mais entrega, mais reconhecimento, mais perto do prêmio, a felicidade. Entretanto, há mais aí do que os olhos podem agarrar, o que é mais inútil do que dormir? Nessa lógica, ele também será sacrificado. Para entender, precisamos lembrar que na medida que você se aproxima de dormir, menos controle tem, é uma entrega gradual ao mundo de Morfeu, não é possível chegar ao sono usando o controle, o sono, os sonhos, a morte tem algo em comum. Nos lembram do quanto não controlamos algumas coisas e, para quem está imerso no controle, o sono e seus parentes representam uma grande ameaça, e assim deveria ser, eles lembram que todo o castelo de cartas construído pelo controle pode ruir em um instante apenas. Digamos que cada um terá que achar ou criar sua balança, cuidando dos dois pesos, controle em busca de algo sempre em falta e a entrega para o mundo dos sonhos.
Além disso, só com o relaxamento da entrega é possível ver uma nuvem, uma flor, alguém desconhecido e lembrar que a existência é compartilhada. Conseguir sentir a poesia que existe, é pela qualidade da entrega, do relaxamento que essas pequenas surpresas do dia podem surgir. O problema ao final, não era o sono em si, mas sim uma forma de atuar pelo mundo que não deixa espaço para nada diferente do controle em prol de uma meta, a descoberta, a abertura, o relaxamento. Eu professor de yoga algumas vezes explico que yoga seria, seguindo esse sentido, a maneira com que cada um acha esse balanço e que seja possível criar espaços para que o mistério apareça durante o dia. Essa medida é peculiar a cada ser humano, diferente de passar uma régua e achar que será a mesma medida para todos, com um rolo compressor, capaz de retirar o ar dos pulmões, sem relaxamento é difícil respirar. Para achar sua maneira de balancear essa equação, faz-se necessário respeito ao que sente, escuta do corpo, tempo para metabolizar as demandas que surgirão. Assim o yoga é uma das possíveis formas de criar espaços, não é a única e nem será, você mesmo pode criar a sua.